Hoje sou pedra
Posted by .... | Posted in Algo que escrevo | Posted on 03:53
Hoje sou
pedra
Não fale em
meu ouvido nem grite meu nome
Hoje você
não sabe quem sou
Nem me olhe
por mais de dois segundos
Eu não
mereço tamanha atenção
Sou mendigo
a fumar nas ruas
Sou criança
no farol
Sou o velho
e a velha no asilo
De um asilo
qualquer
Velho
qualquer
Memória
qualquer
Sou o gesto do
recém-nascido a queimar no
piche de uma metrópole
Sou o que
cai da tua boca
O que rola
na pia
Rodopia dos
bares e padarias
Sou a
família do viaduto
As
estatísticas
O giz e o x da questão
O giz e o x da questão
Menino
adulto sem documento
Estou de
cara no chão
Esperando
autópsia
Fazendo sala
na rua para convidados desconhecidos
Sou o cara de
dedos queimados e mente limpa
Sou o pai no
hospital a olhar nos olhos de seu filho lhe desejando
uma boa morte
A mãe que adormece
o filho que sente fome
Sou eu a
criança infeliz e condenada que vai à
escola mastigar a sopa
Sou a mesa
de casa, leve e suja
Sou o olhar
de meninas estupradas
Sou as mãos,
os pés e o sangue do trabalhador
Sou o
cachorro chutado
Os gatos na
caixa de papelão
Caixa
qualquer
Em porta
qualquer
Chance
sequer
Sou o
protesto na rua
O povo e
seus deveres
Sou a cara ferida
por fluorescente
O eleitor
que existe quando convém
Sou a rua em
forma de mar
Os carros em
forma de barcos
Pessoas em
forma de garrafas pet
Sou aquilo
que nasce
Aquilo que
cresce
A coisa que não
sabe por que existiu
Henrique Lucas
Comments (0)
Postar um comentário